quinta-feira, 7 de julho de 2011

Doenças 2.0: laptoptite e tabletite

Há alguns anos os computadores de mesa desafiaram profissionais e empresas a manter a saúde dos usuários. Quando monitores, mouses e teclados se tornaram finalmente ergonômicos, vieram os laptops e estragaram tudo. Como monitor, teclado e computador estão ligados entre si, fica bem mais complicado automonitorar a postura o tempo todo.
Conversei com uma fisioterapeuta que comentou que não há mais idade certa para que os primeiros sintomas da “laptoptite” se manifestem. Aos 20 anos, dores já são comuns. E tem gente que mal alcançou os 30 anos e já convive com uma LER crônica, tornando-se dependente de antiinflamatórios. A dica dela é: não ficar no laptop mais que 3 ou 4 horas por dia, e, mesmo assim, fazer interrupções com espaço de tempo considerável – de 15 minutos a meia hora!
Contudo, a evolução tecnológica é mais rápida que os guidelines médicos. Antes restritos ao meio corporativo, ou usuários com grande mobilidade, os laptops estão tomando o lugar dos desktops nas residências, transformando-se num grande faz-tudo. Quem trabalha e estuda diante de um computador certamente passa bem mais que as 3 ou 4 horas por dia preconizadas. E parar o trabalho por meia hora parece insano numa empresa.
Complicado, não? Mas acreditem, se podia piorar, piorou.
Aposentadoria por invalidez?
Chegaram os pequeninos netbooks e a ergonomia foi para o saco de uma vez. Tenho notado em escolas, cafés, praças de alimentação de shoppings: adultos e adolescentes todos curvadinhos, fazendo um esforço imenso para digitar num teclado reduzido e enxergar em monitores de 7 a 11 polegadas.
Alguém na sua casa usa netbook? Observe a postura de seus familiares diante dos minúsculos laptops. Eu não consigo imaginar que estas pessoas, daqui 10 anos, estejam pedindo aposentadoria por invalidez. E, somando mais uns 10 anos, sua silhueta deverá estar bem parecida com a do Corcunda de Notre Dame.
E tem mais: agora, os queridinhos do momento são os tablets. Não é mais necessário nem sentar na mesa: simplesmente esparrama-se no sofá para ler e navegar na internet. O corpo inteiro sofre: coluna, punhos, pescoço, dedos. Ler é menos prejudicial, mas usá-lo para navegar e digitar sacrifica o corpo. E o que dizer da visão? Quem passa o dia todo na frente do computador agora leva seu querido tablet para a cama. Vamos somar quantas horas por dia se passa diante de uma tela LCD? Trabalho e estudos ao longo do dia (e da noite), e nos momentos de lazer… TV e tablet!
Eu sou bem radical com meu quarto de dormir. Mesmo antes de abolir a TV de casa, há uns 3 anos, nunca mais tive um aparelho no quarto desde que saí da casa de meus pais. A qualidade do sono melhorou consideravelmente. E ainda, nada de dispositivos eletrônicos até 3 horas antes de ir dormir.
iPad chegou à família e bagunçou todo o esquema. Vista cansada passou a ser uma constante. A insônia apareceu. Conversei com meu oftalmologista e ele foi sucinto: nada de tablet antes de dormir. Acatei. O sono melhorou, bem como a visão.
Nem só de alegria é feita essa maçã
Como estou escrevendo mais, acoplei meu laptop a um monitor e um teclado externos, e é assim que agora trabalho em meu escritório. Gostava de trabalhar em múltiplos cômodos da casa; agora, restringir-me ao home-office também ajudou a me policiar com os horários, evitando que eu caia em “armadilhas” como navegação à esmo durante o trabalho ou na sala de jantar, na hora das refeições. E depois de encerrado o expediente, nada de LCDs. Só livros de papel e o Kindle. Engraçado, eu era mais produtiva quando estava fora de casa do que quando passava o dia no home-office. Voltar a usar um computador de mesa ajudou a me colocar nos eixos.
É isso aí, tecnoleitores: com tantos gadgets modernos, que tal fazermos todos uma auto-avaliação de como estamos trabalhando? O filme Wall-E mostrou um futuro apocalíptico para o planeta Terra, como seres humanos extremamente obesos e preguiçosos vivendo em algum lugar do espaço. Eu sou mais pessimista: os faria também corcundas e usando óculos de lentes bem grossas…

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